O Dever Segundo Lázaro

No Evangelho Segundo o Espiritismo, capitulo XVII, no ponto 7, o espírito Lázaro discorre sobre o dever como obrigação moral. A abordagem de Lázaro é profunda e sábia, lança luz sobre o tema com uma clareza superior, de quem do lado de lá vislumbra mais claramente sobre esse laboratório divino que é a vida aqui na Terra.

Inicialmente cabe ressaltar que ele aborda o tema no âmbito da moral. Moral, tão repetida nos espaços espíritas, e, ao mesmo tempo, tão mal compreendida. Adoto a definição de moral, como sendo uma determinação pessoal, autônoma que molda nossos padrões subjetivos e nossas relações em geral. O dever, no campo da moral, é a lei da vida, como o próprio Lázaro alude, é o resumo prático de todas as especulações morais, ou seja, é a expressão de tudo aquilo que nos determina interiormente. Nosso dever é no fundo aquilo que nos determina. Daí a sua proximidade com o termo determinação.

Na ordem da vida terrestre muitas vezes temos determinações morais condizentes com uma lógica maior, que harmoniza com as leis divinas e, por conseguinte, traz sentimentos positivos de paz, felicidade e bem-estar. No entanto, preservar essa autodeterminação não é papel fácil, pois nos encontramos em meio a um turbilhão de sentimentos, interesses e determinações exteriores que alteram o caminho proposto interiormente e, por vezes, nos traz problemas das mais diversas ordens. As vitórias, muitas vezes, não tem testemunhos, e, o que é pior, as derrotas não são sem repressões. No campo da moral, nossa consciência é o único juiz. O dever moral do homem está completamente vinculado e dependente de seu livre-arbítrio. Lembremos que a moral é essencialmente autônoma.

Todavia, muitas vezes não temos um norte para nosso dever, presos a incertezas diversas e iludidos por impressões passageiras que cercam a vida de qualquer ser envolto no mar do desconhecido, ávido pelo conhecimento. Lázaro, nessa passagem nos dá uma fórmula interessantíssima para determinarmos o nosso dever, ou seja, balizar nossas determinações interiores a fim de encontrar o melhor caminho. Diz ele: o dever principia, para cada um de vós, exatamente no ponto em que ameaçais a felicidade ou a tranquilidade do vosso próximo; acaba no limite que não desejais ninguém transponha com relação a vós. Atentemos um pouco nessas sábias palavras. A observação inicial cabe ao próprio insigne espírito, que chama atenção ao estipular a dor como medida exata, o motivo é a natureza da própria dor, pois Deus nos criou exatamente igual frente a dor. Diz Lázaro: a igualdade em face da dor é uma sublime providência de Deus, que quer que todos os seus filhos, instruídos pela experiência comum, não pratiquem o mal, alegando ignorância de seus efeitos. Não é dado ao homem escusar os efeitos da inobservância do bem, pois todos nós somos identicamente sancionados com a inobservância das leis divinas. Como nos instrui o próprio Kardec, a dor é proveniente do mal cometido, e o mal na melhor das definições, é a inobservância do bem. Mas, voltemos ao dever. Pela máxima de Lázaro todos temos o dever de evitar a dor do próximo, mas com o limite, aquele que não gostaríamos de ver ultrapassado se fosse conosco.

Com esses ensinamentos, Lázaro, afinando com os mais puros ensinamentos de Jesus, não prega a ingerência na vida do próximo, mas condena a nossa acomodação frente às mazelas ao nosso redor, que corrói a alma dos impotentes e rouba a felicidade e a tranquilidade do companheiro de jornada. É dever de cada um consigo evitar a dor do outro como complemento essencial na felicidade própria. Cumprindo esse dever o homem demonstra que ama a Deus mais do que as criaturas e ama as criaturas mais do que a si mesmo.

Nas ajuizadas linhas de Lázaro ele ainda nos adverte que não é tentando obstar as dores ao nosso redor que conseguiremos uma vida sem mazelas, pois a humanidade se correlaciona com certos males indefensáveis, mas o dever, descrito acima, dá à alma o vigor necessário para o seu progresso.

O dever é antes uma obrigação da criatura para com Deus, e esse dever nuca se vai, ao contrário se depura à medida que nos desenvolvemos. A busca pelo dever moral ideal é o caminho que nos aponta para a perfeição.

Autor: Dauney Oliveira