Caridade e amor ao próximo

Na idade média surgiu um movimento que mudara o curso da humanidade e que diretamente renovou culturalmente o povo. Impelidos a rever as concepções de mundo, filósofos da época contrariaram a teocêntrica cultura medieval e desde então passaram a considerar o homem como centro da atenção e da história.

Este movimento conhecido historicamente como Renascimento direcionou as atenções para estudos humanísticos e dos fenômenos naturais. Com o racionalismo houve a possibilidade de investigar as leis do mundo, da natureza sob o véu racional e lógico, abrindo campo vasto de estudo para ciência moderna criar bases investigativas e explicar fenômenos (mistérios) que até então cercavam os homens.

Foi um período de transição no qual o homem que não significava absolutamente nada passa a ser valorizado e a ocupar seu lugar na terra. Foi um momento de desordem espiritual, muito comum em todos os períodos de transição, tendência natural para o relaxamento, quando se elimina as formas e conceitos do passado ( Amorim, Deolindo. 1980 .). O Renascimento ficou conhecido como Humanismo. Petrarca (Humanismo Italiano) acreditava que o conhecimento humano deveria ser aplicado em favor do bem publico.

Humanismo sendo assim é a filosofia que visa ao homem, à dignidade da pessoa humana, de que tanto se fala, muitas vezes apenas teoricamente. A Doutrina Espírita é humanista em suas consequências, pois se preocupa com o homem, propõe soluções para os problemas que dependem da sociedade, interessa-se pelo homem, pela preservação de sua dignidade, o Espiritismo é Humanista, pois aprimora as instituições sociais baseada em sua tese central: A Reencarnação e no axioma Fora da Caridade não há Salvação (Amorim, Deolindo. 1980) .

São Paulo na 1ª Epístola aos Coríntios indica o caminho mais excelente de todos: A caridade!

“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine. Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada. A caridade jamais acabará ( São Paulo, I CORÍNTIOS, V. 1,2 e 8.) .”

A Caridade é apanágio do humanismo, não é dependente de crença. A caridade compreendida por São Paulo é fantástica, Ele a coloca acima da fé, até mesmo porque está acessível ao rico, ao pobre, ao sábio, ao ignorante, ou seja, independe de crença particular, depende sim do desejo em realizar, coloca-a como condição absoluta da felicidade presente e futura.

A parábola do Samaritano é o maior exemplo já que o mesmo era considerado herético e agiu de modo humano, caridoso, enquanto que o sacerdote ortodoxo preferiu fechar os olhos para o sofrimento do próximo.

Caridade e humildade resumem todo o ensinamento e toda a moral do Mestre Jesus. Em todas as asserções do Mestre a caridade e humildade são colocadas como o caminho da felicidade eterna.

Mas, o que é caridade? Qual a dimensão da caridade pregada por Jesus? Como praticar caridade?

Caridade é tornar-se humano, compreender as razões das dores alheias, ser solidário, agir de maneira racional e ao mesmo tempo tocado de compaixão. Infelizmente em nossa sociedade a concepção de caridade é pequena, mesquinha. O conceito de caridade foi atrelado à esmola, que destrói toda grandiosidade da Caridade propagada por Jesus.

Deolindo Amorim, um arauto da cultura espírita nos deixou um legado com relação à esmola propriamente dita e assim compreendida erroneamente como caridade:

“A esmola é uma doença da sociedade. Ainda não temos uma consciência de solidariedade capaz de suprir as falhas no rastro da pobreza extrema e da invalidez relegada ( Amorim, Deolindo. 1985 .) .”

No Livro dos Espíritos encontramos a seguinte passagem:

“Condenando-se a pedir esmola, o homem se degrada física e moralmente: embrutece-se. Uma sociedade que se baseie na Lei de Deus e na Justiça deve prover à vida do fraco, sem que haja para ele humilhação. Deve assegurar a existência dos que não podem trabalhar, sem lhes deixar a vida à mercê do acaso e da boa vontade de alguns (Kardec, Allan. 2002).”

O Dr. João Pompílio de Almeida Filho nos orientou:

“Devemos ir ao encontro dos necessitados, para dar-lhes o que precisam moral e materialmente (1º Congresso Espírita Rio Grande do Sul, 1945).”

O Espiritismo não absorve a idéia de fatalismo como explicação genérica dos desacertos sociais, nem mesmo a tese da reencarnação levaria a tanto. O fatalismo social sendo levado nestas considerações seria a condenação de pessoas ou grupos a uma vida de privações indefinidamente, como se fossem todos marcados pela adversidade inarredável. O que o Espiritismo nos ensina é que os males deste mundo são de duas ordens: vínculos com o passado, ou seja, atos praticados noutras existências, e os que resultam dos erros e dos abusos cometidos no presente.

Jesus nos mostrou que o ato de caridade sublime está intimamente ligado a uma transformação, ou seja, µet????a (Metanóia) uma mudança de pensamento, de atitude. Transformando-nos em pessoas melhores, solidarias e humanizadas, estaremos praticando a maior das caridades, a caridade coletiva. O maior mandamento ensinado pelo Mestre Nazareno é o Amor ao próximo, este mandamento reuni toda a dimensão da Caridade. É ver no próximo nós mesmo.

Léon Denis nos esclarece:

“O Amor é uma força inexaurível, renova-se sem cessar e enriquece ao mesmo tempo aquele que dá e aquele que recebe. É pelo amor, sol das almas, que Deus mais eficazmente atua no mundo (O Problema do Ser, do Destino e da Dor).”

Devemos praticar a caridade pura, verdadeira, tocada de Amor. Mas de que forma? Através de uma reforma social, porém, para que haja essa reforma social é preciso que façamos uma reforma em nós mesmos, com a reforma do individuo obteremos a reforma social. Precisamos elevar o nível moral das massas, eliminar o egoísmo humano que é avesso à humildade e a caridade.

Kardec, em Obras Póstumas nos elucida:

“A questão social (…) está toda no MELHORAMENTO MORAL dos indivíduos e das massas. Aí é que se acha o principio, a verdadeira chave da felicidade do gênero humano, porque então os homens não mais cogitarão de se prejudicarem reciprocamente (Kardec, Allan. 2001).”

Infelizmente centramos a caridade na pobreza, isto é um erro crasso! A maior caridade hoje que podemos realizar (em minha opinião) é nos politizarmos, exigir dos políticos o básico para que as pessoas tenham o mínimo de dignidade.

Vamos juntos divulgar a verdadeira caridade: o Amor ao próximo, o respeito às opiniões divergentes das nossas, o auxilio aos mais necessitados, a tolerância religiosa, o respeito à opção sexual de cada um, todas essas atitudes são caridade, são atitudes humanizadas.

Amemo-nos, respeitemo-nos, e teremos uma sociedade melhor, mais justa, menos cruel. O Amor como diz Léon Denis: “ É o apelo do ser ao ser, é o amor que provocará, no fundo das almas embrionárias, os primeiros rebentos do altruísmo, da piedade, da bondade (Kardec, Allan. 2001)”.

Referências

Almeida Filho, João P. 1º Congresso Espírita do Rio Grande do Sul. Tese Oficial, 1945.

Amorim, Deolindo. Ideias e Reminiscências Espíritas. Instituto Maria. 1980.

Amorim, Deolindo. Reencarnação e Desigualdades. Instituto de Cultura Espírita do Brasil, 1985.

Denis, Leon. O Problema do Ser, do Destino e da Dor. FEB.

Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. Parte 3, Cap. XI. FEB. 2002.

Kardec, Allan. Obras Póstumas. FEB. 2001.