Palestra de 20/03/2014 realizada no Centro Espírita Tereza D’Ávila.
Facilitador: Samir Abdalla – samirabdalla@gmail.com
Assim como o perispírito (Teologia Dogmática – VOL I, Edições Paulinas –
Barnarco Bartmann; “Spiritus Physicus”), a reencarnação já teve adeptos na Igreja, embora a tenha sentenciado no Concílio de Constantinopla. O muito citado, Orígenes, teólogo e exegeta, defendeu firmemente a tese da preexistência.
Justamente no ponto da preexistência, um dos maiores doutores da igreja em sua época, Santo Agostinho, se defrontou com dificuldades para conciliar a criação da Alma com o pecado original.
O fato é que o espírito independe do corpo físico para existir, não sendo Ele criado no ato do nascimento, como há alguns que defendam. Ora, se o Espírito fosse criado no momento do nascimento, seria o caso de admitir, ainda que por absurdo, criação de indivíduos que nascem com tendências para a perversão ou para a elinquencia. Seriam Eles então obra de Deus? E os que vêm com aptidões extranormal? E os sentimentos morais inatos?
A Alma não é feita de uma só vez (concomitante com o corpo físico), é um processo contínuo através dos tempos, onde suas faculdades, qualidades, haveres intelectuais e morais, capitalizam-se, de século para século, através da reencarnação cada qual vem para prosseguir sua jornada, num árduo processo de educação e progresso.
Não negando à fortíssima influencia do meio social, da educação (Questão 385 Livro dos Espíritos), cultura e fatores contingentes, a tese da preexistência explica as inclinações inatas tanto para o bem, quanto para o mal. Todos iniciam sua jornada “simples e ignorante”, sendo este o ponto de partida. O principio da responsabilidade individual é válido no tempo e no espaço, onde adquirimos através de vidas sucessivas as experiências necessárias para o nosso aprimoramento (Les viés successives – Albert de Rochas).
É necessário este aparato antropológico, onde a Doutrina Espírita situa o homem na terra, com suas responsabilidades e em relação ao presente e ao passado, mostrando-lhe o caminho do futuro, sem ilusões nem quimeras.
Mas, como se operacionaliza este processo de retorno à vida corporal? Como acontece a ligação entre espírito e corpo físico? Há um planejamento? O que acontece com o espírito?
A união da alma com o corpo começa desde a concepção, quando o espírito designado a habitar o corpo liga-se a ele através de um fio fluídico ou como alguns chamam o cordão de prata, que vai se “apertando” até o momento do nascimento, quando completa a união espírito – corpo físico. A partir do momento que um determinado espírito liga-se durante a concepção não pode mais outro espírito tomar o seu lugar.
Desde a concepção uma espécie de perturbação começa a ganhar o espírito, avisado que chegou o momento de tomar uma nova existência, e essa perturbação vai
aumentando até o nascimento. Segundo os Espíritos esta perturbação é muito maior que a da morte, já que há relativamente um período maior de permanência neste estado.
Com a aproximação do nascimento suas ideias se apagam, assim como a lembrança do passado.
No livro “Les viés successives”, o Coronel Albert de Rochas transcreve as
declarações da sensitiva Josephine, que desdobrada pelo mesmo, comunicou o que viu na reencarnação de Joseph Bourdon:
“Aproximou-se então daquela que ia ser mãe e “rodeou-a” até o momento de nascer à criança na qual se integrou pouco a pouco.”
No livro “Vida, Morte e Reencarnação” (compilação com Francesco Zingaropoli; Charles Lancelin; Paul Bodier; Gustave Geley), Zingaropoli transcreve resumidamente:
“A partir do momento em que a sua resolução é firme, ele se
apega a essa vontade como os animais hibernantes à sua toca. Tudo à sua volta se torna vago, confuso; ele se acomoda a um estado sonambúlico no qual só é visitado pelas entidades que devem acompanhá-lo e ampará-lo no seu exílio terreno. A consciência do seu “eu” superior se eclipsa para deixar nascer nele um rudimento de consciência que se tornará, depois de desenvolvida, no seu “eu” da vida. E, quando mais tarde, sua consciência verdadeira, original e primordial, tiver sobressaltos de reminiscências, ou de previsões, não a compreenderá e a chamará de subconsciência.”
Prosseguindo mais adiante:
“É, portanto, muito provável pelo sétimo mês da gestação que a entidade, que está para encarnar-se e que até então “rodeava” a mãe, penetre no ser fetal para comunicar-lhe a sensibilidade necessária. Essa penetração, segundo toda a aparência, opera-se por um modo de endosmose muito compreensível, pois que há, simplesmente, passagem, através dos tecidos maternos, dessa parte do corpo astral que, por ser de essência muito aproximada da matéria, é mais fluídica ainda do que o duplo etéreo. Para concretizar o fato com uma expressão breve, diremos que havia até então justaposição (o corpo astral da criança “cingindo” o corpo físico da mãe) e depois intussuscepção.”
A adaptação dos sentidos psíquicos ao organismo material, a começar do
nascimento, opera-se morosa e gradualmente, só é completa por volta dos sete anos, e mais tarde ainda em certos indivíduos (O Problema do Ser, do Destino e da Dor – Léon Denis / O Livro dos Espíritos – Questão 380). Para o cientista francês Gustave Geley quando chega aos sete anos efetua-se a encarnação do corpo causal e das mais elevadas faculdades da alma e a criança deixa de ser uma criatura ainda astral para tornar-se apenas numa exilada na matéria.
Léon Denis em O Problema do Ser do Destino e da Dor elucida que, até esta época, o Espírito flutua em torno do invólucro carnal, vivendo até certo ponto da vida do espaço, gozando das percepções, de visões que, às vezes, impressionam com fugitivos vislumbres o cérebro físico. Sendo possível catalogar de crianças alusões a vidas anteriores, descrições de cenas e personagens sem qualquer relação com a atual encarnação.
Estas reminiscências esvaem-se, geralmente, próximo da idade adulta, quando a alma da criança entrou em plena posse dos seus órgãos terrestres, cessando a transmissão das vibrações perispirituais, com a consciência profunda emudecida. Estes fenômenos de lembranças de vidas anteriores, não podem ser considerados fatos desconexos, pelo contrário, demonstra que o principio organizador da vida em nós progride através de existências sucessivas.
Como dizia Platão: “Aprender é recordar-se!”. E recordamos a cada encarnação, como é o caso de Mozart, executou sonata no piano aos 4 anos e aos 8 compôs uma ópera; Beethoven fez-se aplaudir aos 10 anos; Michelangelo e Salvatore Rosa, que de repente revelaram-se com talentos imprevistos; Pascal, aos 12 anos descobriu a geometria plana; Rembrandt, antes de saber ler já desenhava como um grande mestre (L’homme de Génie – C. Lombroso).
Trazemos a cada encarnação uma bagagem imensa de informações inatas, que por mais que a casuística materialista tente, não consegue relacioná-las com qualquer causa imediata e conhecida. E o que dizer dos poliglotas analfabetos? Aí partem para o imaginário ultramaterialista de que em algum momento durante a gestação teve convivência com tal língua, ou ouviu na televisão ou coisas deste tipo. A Lei da hereditariedade vem obstar, até certo ponto, essas manifestações da individualidade, já
que fornece os elementos genéticos que o Espírito põe a seu jeito o invólucro, mas, limita-se ao tentar relacionar tais faculdades inatas, onde na esmagadora maioria não há nenhuma relação com seus antecedentes.
Prossigamos em nossa trajetória, buscando o progresso intelectual e moral, nos afirmando como espíritos, que evoluem, reconhecendo nossas atuais limitações, mas, esforçando-nos para deixar as más inclinações. Preparemo-nos já para nossa próxima vinda, seja na terra ou em outros planetas!