Afinal, o que é o espiritismo? Kardec propôs esta questão no livro “O que é o Espiritismo”, publicado no ano de 1869, cujo objetivo principal é trazer um esboço inicial do que seria a Doutrina Espírita. Logo no preâmbulo, afirma ser o Espiritismo uma ciência que busca compreender a natureza e a destinação dos espíritos.
Da forma científica como O Livro dos Espíritos foi organizado, Kardec, com a ajuda da razão e da observação, estabelecendo um método próprio para analisar as respostas dadas pelos Espíritos, configura a natureza intrínseca de ciência que trás o Espiritismo.
Há várias definições para ciência. Etimologicamente, o seu radical latino (scientia), pode ser traduzido como conhecimento ou saber. Dentre as múltiplas definições da ciência prevalecem paradigmas que a relacionam, ora mais amplamente, ora mais restritivamente a determinadas práticas humanas, contudo, nunca se afastando da sua raiz: o conhecimento aceito por nossa razão.
Adotaremos a definição de ciência como sendo a compreensão por meio de um método capaz de promover e difundir certo tipo de conhecimento.
O método utilizado pelo espiritismo foi exemplificado por Kardec em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, em que, sucintamente, consiste no uso de comunicações obtidas em vários pontos, ao mesmo tempo, por diferentes médiuns, e que tragam o mesmo conteúdo relevante. Kardec formulava hipóteses a partir de suas observações para, posteriormente, serem comprovadas ou descartadas mediante as evidências. Se refutadas, novas hipóteses eram formuladas. As bases de seu método e os frutos de suas pesquisas podem ser observados nas obras publicadas pelo Prof°. Rivail sob o pseudômino de Allan Kardec.
No entanto é comum o espiritismo figurar como religião, principalmente pelo fundo moral proveniente da sua filosofia, tanto que figura constantemente nas opções religiosas das pesquisas e das conversas do senso comum.
Analisando a palavra religião em seu radical religare, também latino, cujo significado seria re-ligar, interpretada como uma busca ao divino, que religaria o indivíduo a Deus, o espiritismo não deixa de ser uma religião.
Mas, se aceitarmos o espiritismo como religião devemos ter em mente os fundamentos basilares expostos por Kardec, que sustentam a permanência do espiritismo como instrumento de compreensão da Vida, desde o final do séc. XIX, até os dias de hoje.
Devemos ter em mente que não se coaduna com o ideal espírita a existência de dogmas, pois toda verdade no espiritismo pode ser questionada, avaliada e complementada. Fruto de sua caracterização como ciência pelo próprio Kardec.
Igualmente não podemos esquecer que no espiritismo não há símbolos, amuletos, talismãs, rituais etc., pois se elege a substância como valor primordial, relegando à forma importância meramente secundária. É pelo pensamento(1) que atraímos os espíritos, sejam eles bons ou maus, de acordo a natureza de nosso pensar. Portanto, a prece inicial, a luz azul, a mesa branca, o passe ritualístico e a água ao final refletem costumes meramente secundários nas práticas espíritas, sendo a comunhão de pensamentos e de propósitos sérios o meio para se ter um trabalho também sério.
Desta forma, não necessitam os espíritas de templos para exercitar a sua fé e a sua ciência, nem mesmo de líderes ou gurus, pois é na responsabilidade pessoal, no rigor moral e no esforço que faz para se melhorar que identificamos o verdadeiro espírita.
Se, aceitarmos o espiritismo como religião, esta não terá nem mesmo um livrointocável, pois seja qual for a singular colaboração de um autor espírita ela não será absoluta, pois o progresso é lei universal. É requisito fundamental o diálogo do espiritismo com as novidades científicas da humanidade e da espiritualidade. E não é outro o postulado kardequino, ao afirmar que o espiritismo deve andar de forma convergente com a ciência.
Nesses moldes, o espiritismo é religião, ciência e filosofia, pois toda religião completa também há de ser científica e filosófica.
Autor: Dauney Oliveira
(1) O Livro dos Espíritos – pergunta 553 e outras.